A verdade existe?

Desde as aulas de filosofia que tive a oportunidade de ouvir e ser assistida por elas ou sempre que ouvia algo relacionado à temática sobre verdade filosófica ou sobre verdades relativa ou absoluta ficava reflexiva sem entender muito bem, sem consguir associar os conceitos à realidade; sem entender o limite ou diferença entre a verdade pactuada e aceita social e moralmente e a verdade dos fatos, a verdade material. E, mais: se algumas delas era mais certa que a outra, se era a tal verdade filosófica e se a verdade pessoal podia se distinguir da verdade social-moral e da verdade dos fatos. Sim, até aqui, penso que existem muitas verdades. Nem todas aceitas, nem todas certas, nem todas justas, nem todas moralmente aceitas. Existem os fatos e deles se extraem verdades; estas as que materialmente mais sem aproximam da verdade verdadeira, mas, ainda assim podem ser parciais, recortes de verdades, tendo em vista que resultam de interpretações, de  momentos pontuais vividos, de recortes da vida. Eu me questionava e ainda me questiono sobre a existência de uma verdade pura, verdadeira. Conseguia grosseiramente entender que a verdade dos fatos não era, necessariamente a verdade filosófica.

A esta altura da leitura, gostaria de poder e ressaltar que essa ideia de verdade filosófica é uma ideia laica de verdade, ou pelo menos não está ligada à religiosidade. Desse modo, a partir de algumas leituras, notadamente, os ensinamentosdos livros de Platão que trazem os diálogos de Sócrates e seus discípulos/seguidores, algumas dessas inquietações foram abrandadas e outras surgiram ou ganharam força. Entendi desses ensinamentos que algumas verdades são elegidas e legitimadas pelo consciente coletivo  e são importantes para a ordem social e a vida em sociedade. Existem verdades e fatos e verdades advindas de fatos. Aproximo-me da ideia da existência de uma  verdade maior que rege e dá sentido à existência humana. Escolhi acreditar na existência da  verdade filosófica, aquela que é objeto da Filosofia. Neste sentido, valho-me  do que nos esclareceu Clóvis de Barros Filho (2021, p. 177), ” a especificidade dessa busca filosófica da sabedoria é a verdade.” 
Em um primeiro instante somos levados a entender que a busca do filósofo é pela sabedoria da verdade, unindo sabedoria e verdade numa sinonímea. Contudo, penso da citação supramencionada que da sabedoria extrai-se a verdade, o que não impede que o final da busca seja a sabedoria, visto que extraída a verdade, chega-se ao fim da busca.
O filósofo ao encontrar a verdade, alcança a sabedoria e passa a ser sábio. Essa distinção é bem delineada neste excerto: ” Por isso mesmo, o filósofo não pode ser confundido com o sábio. Porque esse último não vai atrás de nada. Talvez já tenha ido um dia. Quando ainda era filósofo.”
Ele nos ajuda ainda mais sobre isto quando afirma que a busca da verdade é o caminho para se chegar objetivo maior, ao fim que é a sabedoria. Esta ideia nos remete ao conceito etimológico, genérico e até popular do que seja a Filosofia:  Amor ao saber; amigo da sabedoria. Clóvis de Barros, continua a nos ajudar a articular as ideias  quando nos explica que o sentido de amor desse conceito está relacionado à busca, no sentido de quem “vai atrás” (p. 177). 
Assim, escolhi acreditar que A verdade se aproxima da verdade filosófica, aquela que já nos pertence desde o mundo inteligível. Vem, portanto, da nossa essência, da nossa alma. Aproximamo-nos dela ou a reconhecemos quando nos expressamos no mundo sensível (real) através de  atitudes que ressoam com o que sentimos já que o sentir faz conexão direto com a alma numa visão metafísica.
Portanto, a verdade da alma se expressa no mundo físico através da consonância das nossas ações com o que pensamos e sentimos, e essas ações cotidianas quando estão aliadas a concepções solidariedade, justiça social, manutenção harmônica da sociedade, respeito às vulnerabilidades e apoio à construção de uma sociedade pacífica e próspera em qualidade de vida parecem ser o modo de vida que mais se aproxima do propósito da existência de seres vivos com ferramentas intelectuais potenciais para elevar toda a criação material do mundo sensível o mais próximo da verdade do mundo das ideias, talvez pensado e arquitetado por uma Verdade Maior advinda de um ser sábio e perfeito, quanto mais desse projeto nos aproximarmos , mais próximos dA verdade estaríamos, para quiçá encerrarmos nossa busca, descansando na Sabedoria do mundo das ideias onde a verdade é explícita e não precisa ser encontrada.