Sussurro

Esta é apenas uma daquelas histórias que poderia ter sido contada à mesa do café da manhã.  É um conto sem aumentar um ponto. É expressão real de um recorte da vida de quem gosta de observar as entrelinhas – não as minhas, mas as do Universo. 
Ela tem uma pitada de fé e podia, facilmente, estar nos pensamentos não ditos naquela mesa de café, interpretada como um exagero sentimentalóide ou uma “loucura”,  já que é assim que  costumamos pré-conceituar   o que não conseguimos entender, ver, tocar.
Então, decidido está, vou contar:
Lá estava eu, colocando meu pequeno para dormir. Em sua caminha. Binômio aconchegado. Ao meu lado, sua cabeça procura a posição certa no meu fofinho – como ele chama o braço e o colo onde se deita para dormir. 
Eis uma mãe padecendo no paraíso: braço que apoia a cabeça da cria dolorido, imóvel, dormente; e, também, satisfeito de servir de afago, segurança, naninha, ninar. O cansaço e as culpas do dia se misturam ao descanso do cochilo involuntário.
Nessa embriaguez do cochilo “acordada” veio a frase. Penso e falo muito com meus botões, mas achei um “monólogo” peculiar, pois não foi preciso formular o pensamento a partir de uma ideia ou reflexão. Simplesmente ouvi, “me veio na mente” como se fala no popular. Mas, não, não parecia uma frase entoada por uma voz. Ocorreu, pois, como num sonho que imediatamente fora seguido de um despertar. As palavras da frase foram nítidas; uma frase pronta, dita, talvez, pelo meu inconsciente em conversa com o consciente. 
No mais, “só sei que foi assim” como um sonho, uma conversa, um sussurro. Levantei para o resto do final da noite – momento que muitas de nós,  mães, esperamos para sermos somente nós e nossos botões, momento  no qual  nos reencontramos com a nossa versão  não mãe. Foi logo após esse despertar da embriaguez do cochilo que decidi escrever antes de esquecer:
A vida é um pensar de Deus, então, viva!
Se tem sentido? Para alguns, talvez. Para mim, total!